terça-feira, 3 de março de 2009

Travessura

Os óculos anunciavam a idade,
O celular moderno a negavam.
Uma memória lhe fazia extremamente feliz.
Recordação de um sentimento interrompido
O bloquinho de papel a sua frente
Chamava-o para mais perto.
No entanto era necessária uma caneta.
Era preciso esperar que a secretária
Entrasse no consultório médico.
Mas uma página!
Ela não se importaria em ceder uma página...
Criaria coragem de pedir-lhe.
Dirigia-se a mesa dela
Quando o telefone tocou.
Ele havia de aguardar.
As palavras já se remexiam em sua mente.
Queriam sair.
Aguardem!
Mas não! Quando decidem, querem e pronto!
Talvez não fosse a hora...
Mas o coração dizia que era
E as expulsava da mente.
Ah, dor de poeta!
Adormecido
Nem se dava mais ao trabalho
De carregar seus instrumentos...
Agora os tinha urgência.
O telefone se acomodava ao gancho
E a porta do consultório se abria.
A moça ocupara-se outra vez.
As palavras pareciam querem ir junto com ela.
O jeito era tirar-lhe uma página a força.
A caneta também estava lá!
Mas não havia consentimento!
Por que não um telefonema?
Não!
Era preciso reviver a memória por completo!
Papel e caneta em mãos
As palavras foram fluindo,
Se atropelando...
Nada legíveis ou compreensíveis,
Mas lá estavam os versos.
Era preciso uma tradução do próprio autor.
Uma nova página.
Feito isto.
Um avião de papel
Tocara os pés da ilustríssima dama
Que entrava...
Ela assustou-se.
Irritou-se até,
Com aquela brincadeira de criança
Em lugar e hora indevidos.
Porém não havia crianças no recinto.
Mais adiante havia um senhor
E dentro dele a criança
Que sempre lhe mandava
Bilhetinhos em aviões de papel.

Mariana Bizinotto – 05/02/2009

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