domingo, 29 de novembro de 2009

Não falemos de tempo

Acostumada a discutir sobre o tempo
com uma pessoa e
partilhantes da mesma pressa
que tanto afetada os pensamentos,
deparei-me com uma necessidade
de outro assunto.
Eis que em determinado momento
escrevi-lhe, após os cumprimentos:
“Não falemos de tempo dessa vez...
apesar de datas remeterem a tal.
Falemos então de uma data especial.
Feliz aniversário!!!!
Tudo de especial pra ti,
muita saúde, paz, tempo, alegrias e sucesso.
Claro, se for possível conciliar tudo,
o que talvez seja
o grande dilema da humanidade.”

Mariana Bizinotto – 29/11/2009

Dias especiais

Certo dia acordei
e era aniversário de um amigo
um simples dia para tantos
e para ele o dia
que ocorre apenas uma vez
ao ano, por isso o caráter de especial.
Se pensarmos bem
todo dia ocorre não somente
uma vez ao ano,
mas uma vez na vida,
uma vez no universo.
Apesar de haverem dias semelhantes...
1º de janeiro nunca se repete,
nem mesmo o aniversário se repete.
Uma prova de que todos os dias são especiais
é em cada um é sempre um aniversário
só que para pessoas diferentes,
logo tudo depende da leitura dos fatos.

Mariana Bizinotto – 29/11/2009

sábado, 28 de novembro de 2009

Inevitável

E distraída...
Tentava não sentir
o que era inevitável.
Até que um dia
um insight de cegar
me fez ver o que
vinha de dentro.

Mariana Bizinotto – 25/11/2009

Tempestade

Tempo
Hábil

Amável
Tempo
F r á g i l

Mariana Bizinotto – 24/11/2009

Brincadeiras

Esse olhar,
o pedido de desculpas,
o sorriso esperto,
o disfarce do nervosismo,
o espanto das palavras,
os gestos embaraçados,
as ambiguidades.
Nada me engana mais,
pois toda brincadeira
tem um fundo de verdade.
Só que o melhor
é encarar como um gracejo
e analisar a mensagem
que se esconde
e não a que é revelada.

Mariana Bizinotto – 23/11/2009

Arte, no quarto das ideias

Por que o artista
faz a obra
e esta fica limitada
às paredes gélidas do acervo
e apenas vez ou outra torna-se visível.
Será esta mais uma afirmação
da arte como ideia?
O que vale é saber que alguém
algum dia no tempo
teve uma ideia,
e não vê-la atualizada?

Mariana Bizinotto – 15/11/2009

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

O Trem

Levada à reflexão
sobre o fenômeno da disposição,
observei que apesar de, aparentemente,
fechada a possibilidades,
a pessoa pode não o estar realmente.
O fechamento pode não ser total,
mas uma espera,
pela chance certa.
Basta ouvir o coração
e naturalmente descobrir
que para os sonhos
nunca se está fechado,
sempre recluso a observar
o fluxo do mundo,
e a esperar o trem de seu destino.
E quando ele passa,
se observa temeroso,
imaginando como será
o lugar de chegada,
e ele está a parar,
mas por mais que se queira subir,
as pernas ficam presas ao chão
e a cabeça voa alto...
com o corpo todo desintegrado
o trem reinicia o movimento.
O corpo inerte impulsiona-se
e permanece olhando,
olhando apenas,
e o trem passando,
e de repente de um salto
ele agarra-se a traseira
e segue desajeitado,
com o incômodo vento
pelo lado de fora,
até conseguir se infiltrar
e descobrir que o trem só vai,
nunca chega a um ponto definitivo,
nem é cíclico,
viaja-se sempre...

Mariana Bizinotto – 15/11/2009

Será?

Oh verbo confuso!
Inquietante!
“Ser ou não ser, eis a questão!” -
já indagou Sócrates,
reafirmou Shakespeare em Hamlet
e repetiram quase todos.
Não é apenas uma questão existencialista,
reverberada pelos conflitos
e dúvidas afora,
com outras versões, idiomas ou dialetos,
ou até mesmo com uma imagem apagada
pelas mãos de Rauschenberg,
será?
é uma questão que não quer calar,
não se cala,
e não se calará.
O combustível do mundo são as incertezas.
Será? será sempre uma busca.
Seja sendo ou não sendo.
Eis sempre a mesma questão.

Mariana Bizinotto – 15/11/2009

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Após a chuva...

Após a chuva
a neblina espessa
encobre a realidade
e aos poucos esclarece
a melhor verdade.

Mariana Bizinotto – 15/11/2009

Rota

Aprendi o que nem sabia
estar na lição.
Sofri
a dor da incrustação.
Vivi
a imperfeição.
Discuti
com a razão.
Ignorei
o coração.
Temi
a melhor sensação.
Lutei
pela evolução.
Esqueci
da manutenção.
Sabotei
minha própria operação.
Fui surpreendida
pela minha própria invenção.
Perdi
do tempo a noção.
Deixei com você
o meu coração.
Tirei minha própria razão.
Roubei de mim
a convicção.
Esclareci
a rotação.
Retomei
a indeterminação.
Entreguei-me
à oscilação.
E hoje
tento ser feliz
por diversão.

Mariana Bizinotto – 15/11/2009

domingo, 15 de novembro de 2009

Pensar com o coração

Acho que deveria
pensar mais com o coração.
Só ele sabe realmente a verdade.
Procurar no racional
as respostas que só ele tem,
é um erro.
“O pior cego é aquele que não quer ver”.
E o que meus olham não vêem,
meu coração sente mais,
sente muito,
por poder ter evitado sofrimento
e por ter adiado felicidade.
Quando não se pensa com o coração
fingi-se achar soluções.

Mariana Bizinotto – 15/11/2009

O dia esperado

Quando o dia chega
o coração sabe que quer gritar
mas contido espera
ouvir primeiro o outro grito.
E pensam ambos
que o dia não chegou.
Até que tudo se esclareça.
E a incerta certeza
se confirme.

Mariana Bizinotto – 15/11/2009

sábado, 14 de novembro de 2009

Desilusões

Por que temer a verdade?
O óbvio e o sonho?
Por que temer a realização?
Talvez o medo seja na verdade
pela desilusão.
Temendo ser desiludida,
velei meus sentidos
e desejos.
Ocultei meus sonhos e anseios.
E caminhando por caminhos incertos
desiludi-me muito mais
do que pelo caminho que aspirava seguir.
Encontrar o caminho certo
é uma coisa,
decidir por seguir nele,
é outra –
e esta eu não estava disposta
a entender assim.
Por isso dei-me motivos
para que o caminho não fosse aquele.
Depois de voltas e curvas vãs,
decepções e desilusões,
que machucaram-me como espinhos,
deparei-me outra vez
com a porta de entrada
do caminho que me atraía.
Arriscar é uma palavra
bastante incomum em meu vocabulário,
apesar de requerida por circundantes.
E dessa vez ela não foi necessária.
O fenômeno se deu de uma outra forma.
Foi preciso permitir-me viver o instante
e caminhar simplesmente.
As longas curvas mortas ficaram
à deriva do passado,
onde nem as lembranças fazem questão de ir.
Agora o tobogã,
surpreendente,
esfria a barriga
e guarda um novo
sempre por vir.

Mariana Bizinotto – 13/11/2009

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Realização

Acostumados a um distanciamento físico
e a um limite de convívio
que não denunciasse o sentimento
cultivado por ambos,
e que ora insinuado, ora reprimido
provocava uma dinâmica
entre a expectativa, a certeza e a decepção.
Uma dinâmica que nos sustentou
e à nossa motivação.
Incentivo que aos poucos
passará a ser fornecido por outra fonte:
a realização e felicidade que agora há em nós,
o bem-estar mútuo que provocamos e sentimos.
As peças que espalhamos sobre a mesa
aos poucos se juntarão
e dessa vez comporão uma imagem real.

Mariana Bizinotto – 11/11/2009

Fase de adaptação

Quando o amigo passa a par romântico.
O mistério e a dificuldade
cederão, com o tempo,
lugar à felicidade e ao aconchego.
A expectativa abrirá espaço à realização.
E aos poucos um corpo amigo
passará a um status superior,
de maior privilégio e proximidade,
talvez até mais íntimo.
Porém tudo só o tempo dirá,
como já declarara
um dos mais sábios dos ditados.

Mariana Bizinotto – 11/11/2009

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Nostalgia

A chuva almeja cair lá fora
e em mim cresce
uma felicidade
de origem inexplicável
e maravilhosa.
E o que importa
não é desvendar esse mistério
e sim sentir o dia e o tempo
pulsando em mim,
enquanto lá fora
a água purifica a matéria,
as lembranças boas
purificam minha alma.

Mariana Bizinotto - 06/11/2009

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Surpreendida pelo óbvio

Agora estou tão feliz quanto boba.
O caro leitor (a) deve estar achando
uma embromação enfadonha,
porém para mim,
o que aqui pretendo expressar
é o mais importante de tudo
o que já quis traduzir em palavras.
No mesmo instante boba e a mais realizada
pessoa que se pode imaginar.
A pouco o homem que amo a tanto
e meu melhor amigo a tempo
segurou minha mão
por meio filme
e beijou-me ao final.
Sem nada falar a respeito
caminhamos até a livraria –
aconchegante como um lar –
seguimos até as mesmas prateleiras
e demoramos muito em conversas
que poderiam fluir até o infinito.
Os amigos riram bastante.
Durante a partida o amigo que caminhava ao lado
pegou minha mão
e ao falar que não sabia o que dizer
mal sabia ele que já havia dito tudo
o que eu mais queria ouvir a tempos -
e que fui saber mais adiante na caminhada –
o que ele também queria dizer a tempos.
Sempre sonhei com um amor assim
em que as palavras, tão excessivas
em outras caminhadas,
não fizessem o menor sentido
e nem mesmo a menor falta.
Não serei infantil a ponto de pensar que é um sonho
quero que seja real.
O que acontece é que ainda estou estupefata.
É um sorriso duradouro
e ao mesmo tempo contido pela surpresa.
É uma sensação de se ter ido, mas não ter aterrissado.
Estou flutuando e vendo a vida de fora.
É...
Indescritível...
Creio que ele também esteja sentindo o mesmo.
Somos tão parecidos
que até nisso a história foi igual.
Até mesmo os dois lados da história se parecem.
Só não estou boquiaberta, porque é uma descoberta boa,
aliás, é a melhor sensação da minha vida,
e porque o sorriso molda minha boca na direção contrária.
O momento da descoberta foi o mesmo da revelação.
Um alívio e um coração acelerado concomitantes.
O fato sempre esteve diante de mim,
porém as metáforas camuflaram a realidade
e tornaram sonho todas as possibilidades.
É tanta a vontade de semear pelo mundo a felicidade,
e também a necessidade de guardar só para nós o momento.
E esse equilíbrio só é possível pela maturidade
arraigada em mim
capaz de deter minha ansiedade.

Mariana Bizinotto – 09/11/2009

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Um dia no mundo ao lado

Seres como nós,
nós: eu e o caro leitor;
sim, pois vejo certa igualdade humana
em todos, tanto neste
quanto no mundo ao lado.
Eu estive lá, de visita,
passagem, não penetra.
Estive como quem quer estar.
Aprendi que a vida é bem mais simples.
E que as pessoas são bem mais frágeis
como o nosso mundo coloca.
Talvez este seja um dos itens
de seleção entre os mundos.

Boas pessoas, ótimas pessoas.
Assim como aqui, pessoas de todas as maneiras.
Mais aventureiras, mais ousadas,
mais despreocupadas com a razão;
mais sensíveis, mais leves.
Essa é a impressão de quem olha,
porém quem sente pode nitidamente
ver um conflito interno,
uma necessidade de refúgio,
de ter um porto-seguro
ou uma forma de alienação;
dar um tempo do que incomoda,
uma perda temporária de memória,
uma perda induzida.
A meu ver os fatos não se sustentam,
pois a memória que se perde
não é a que de fato se quer perder.

Respeito a forma
como cada um conduz sua vida.
E se achar que enganando
e controlando a mente
para que ela esteja atenta
apenas ao que se quer-
lembrando o termo da falsa-sensação -
é uma boa forma de vida,
não serei eu a voz da proibição.
Quem dera,
nem voz nesse mundo se tem sozinho.
A função da ponte é justamente
a de separar esses mundos ou uni-los,
na hora em que convier.

Mariana Bizinotto – 22/10/2009