domingo, 27 de setembro de 2009

Balanço

Quantos livros na estante
ainda nem li.
Quantos poemas foram perdidos,
porque não escrevi.
Quantas ideias se foram
por estarmos ocupados.
Quantas músicas não ouvi,
ensurdecida pelo trânsito.
Quantos teatros não vi,
para dar assistência a alguém.
Quantos passos não dei
por estar tomando decisões.
Quantas vidas se foram
por não planejarem.
Por isso o absoluto
é uma qualidade sobrenatural.
Reles humanos
estamos sempre tentando
nos equiparar ao símbolo de perfeição
que criamos.
Enquanto tudo que existe de concreto
são as oscilações.
E na medida em que
nossos pensamentos voam como borboletas,
nossos pés correm rumo ao horizonte.
E mais um dia de luta entre o querer e o dever
se finda com o pôr-do-sol.
É tudo uma questão de administrar a vida.

Mariana Bizinotto – 13/09/2009

Notícia-fato

Hoje recebi a notícia
de que a mãe de um amigo falecera
e tomei a notícia como minha
bem como a dor que ela trouxera.
As lágrimas não escorreram,
mas se formaram
e estão em meu íntimo
prestes a derreter todo o meu corpo
agora de papel.
A característica de poeta ou sensível
vai além do simples imaginar
da dor do outro
consiste em tomar para si a dor -
ou outro sentimento alheio, -
compartilhar do estado de espírito
e viver mais do que uma só vida propicia.
Prós no sentido
de experiências e inspiração.
Contras na medida em que retira-te de ti
e propõe-lhe a vida do outro.

Mariana Bizinotto – 24/09/2009

sábado, 26 de setembro de 2009

Sabedoria

Há dias em que amanhece tudo escuro.
O sol aparece sombrio.
E depois do mundo desaguar
tudo torna a ser lindo.
Surgem aves amigas a murmurar
palavras a esmo
que apesar do não compromisso
e justamente por isso
fazem tão bem.
E o alívio é imediato.
Saber quando sorrir
e quando chorar
é uma das maiores sabedorias do mundo.
Enquanto uma das maiores dificuldades
é controlar as emoções.
Há dias em que se procuram espinhos
e nem se percebe as rosas caídas pelo caminho
a implorar socorro ou até mesmo atenção.
Há dias em que se procuram rosas
e tudo o que parece restar são os espinhos
da caminhada anterior.
Mesmo assim,
anda-se no caminho infinito
e totalmente imprevisível
procurando o que se quer encontrar
e esquecendo de encontrar o que não se procura.

Mariana Bizinotto – 24/09/2009

Busca pelas respostas

Eu gostaria de saber quem tem as respostas
para as minhas perguntas.
Não lhe digo nada,
porque sei que não me compreenderás.
És humano como eu.
Queria que foste comigo nessa busca,
queres, porém não entendes o motivo da viagem,
logo não me compreendes, nem apoias.
Queria eu que estivesses ao meu lado
e estar ao teu, a crescermos juntos.
Exiges de mim e não escutas
o que tenho a reclamar de ti.
Também não és perfeito.
Sabes disso, eu sei,
mas teus defeitos vão além
dos quais já tens conhecimento.
Compreendi os meus,
quero mudar, também por mim
e é por isso que parto nessa viagem
mesmo sem ti. E garanto:
Eu volto! E melhor!
Pena que não saberás
como se deu minha evolução
e as respostas que descobri.
Espero que também encontres tuas soluções.
Se precisares estarei sempre pronta a lhe ajudar.
Até a volta,
apesar de que fisicamente estarei sempre aqui.

Mariana Bizinotto – 16/09/2009

Onde está a verdadeira essência humana?

Quem muda sou sempre eu,
porém os outros não percebem
que se mostraram diferentes primeiro.
Talvez por já serem assim
e só não terem revelado tudo de início,
ou seja, para mim houve mudança.
Também podem lhes parecer o contrário,
os papéis serem invertidos.
Porém não creio pelas minhas análises.
Até determinada altura de minha vida
fui fechada.
E desde que me abri sou sempre mais transparente
e muito mudou.
Por ser tão incolor
posso parecer monótona diante camaleões.
Creio ser esse o problema:
minha abertura provoca algo que ainda
não compreendo bem.
Meu isolamento também é condenado.
E meu meio termo me faz
parecer uma pessoa falsa,
sem amigos e não merecedora de dedicação.
Não se aproximam demais, nem estão sempre longe.
Estão perto na medida em que lhes convém
e quando sou eu quem necessita, têm afazeres demais
para prestar atenção em mais uma pessoa.

Talvez a pergunta adequada seja:
O que é a verdadeira essência humana?

Mariana Bizinotto – 16/09/2009

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Amizade verdadeira

é quando se fica longe
e no reencontro
parece que nenhum tempo se passara.
É como se a conversa continuasse
do ponto em que parou no dia anterior.

Mariana Bizinotto – 25/09/2009

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Cultivo

Tenho saudades do meu bem,
meu amor, meu príncipe.
ontem mesmo eu estava a ler
as mensagens de início de namoro
e pré-namoro,
porém ninguém vive de passado
nem mesmo nosso amor.
É preciso sempre renovar,
cultivar e permitir que as raízes se fortaleçam.
Plantastes em mim um sentimento
então cultivas se queres evolução.
Não digo apenas pelas mensagens, pelas palavras,
as atitudes também não parecem mais tuas.
Reflete e compara-te antes e agora.
Eu me apaixonei pelo primeiro,
e não quero traí-lo com o segundo.
Decidas qual deve viver.

Mariana Bizinotto – 16/09/2009

Isolamento

As únicas pessoas das quais conquistei companhia
estão prestes a ir embora
como muitos já foram
pelo tempo, pela geografia
ou sem motivo conhecido.
Há um bloqueio entre meu eu e a sociedade.
Ambos se afastam em sentido contrário.
Isolo-me para não sofrer com o abandono alheio.
Sempre fiz isso
até achar que não era mais necessário
e começarem a me atingir novamente.
Não compreendo mais as atitudes de outrens.
Egos fortes que me dominam e massacram.
Para não haver discussões,
me calo e me dominam.
Para evitar a dominação
me afasto depois de já ter sofrido.
Sem compreenderem, me acusam.
E meu isolamento é todo culpa minha.
Bem como tudo o que se desfez.

Mariana Bizinotto – 16/09/2009

Voz muda

A cabeça do palito de fósforo
no chão da sala de aula
está voltada para mim
e vermelha, ela me chama mais atenção
que o professor descrevendo
um efeito ping-pong no chão cinzento
com o qual suas vestimentas
e cabelos quase camuflam.
De um lado a outro da sala
e de timbre constante
sua voz está sempre presente,
porém de tão contínua
chega a ser muda em nossos ouvidos.
E nesse instante o palito de fósforo
grita mais alto
e me chama atenção para a vida,
me questiona sobre o mundo
e me faz refletir sobre mim.

Mariana Bizinotto – 16/09/2009

domingo, 13 de setembro de 2009

Confissão

À margem do mundo
o vazio de um homem
que não sabe o que quer.

Mariana Bizinotto – 13/09/2009

Evoluir

O mundo gira sob nossa cabeças
e é como se tudo fosse despencar sobre elas.
O peso da dor não é maior
que a consciência do vazio.
Entender o mundo
não é tão difícil quanto entender o outro.
Complexidades da vida humana
descartadas pela mira a esmo.
A roleta decide sua trajetória
e paciente você pensa que vive.
Uma vida sem escolhas, lutas
e consequentemente conquistas.
O acaso, o novo, o inesperado
podem ser atrativos,
mas também é preciso
estabelecer as próprias metas.
Enfrentar o mundo de cabeça erguida,
não de olhos fechados.
Convencer não basta,
o grande desafio é sustentar suas palavras.
Ninguém detém nenhuma sabedoria,
só se administra descobertas a todo tempo,
e são elas que ditam as regras de nossas vidas.
Evolução.
O mundo, a vida, o caminho, o passo,
a respiração, o pensamento,
a batida do coração e o olhar,
é tudo uma questão de evolução!

Mariana Bizinotto – 13/09/2009

sábado, 12 de setembro de 2009

Um povo que fala dos outros

Quando dei por mim
estava eu sentada num toco feito banco
ouvindo falação de roça.
Um povo que fala dos outros.
O tempo passava
enquanto a fala distraía
o trabalho no fogão
e a cabeça desabafava as injustiças.
Um povo que falava da vida alheia,
como todo povo faz -
como que numa análise
inconsciente de sua sociedade -
uns falam por mal, outros por bem;
uns reclamam; outros poucos elogiam;
uns querem mudar o mundo,
outros sabem que não podem sozinhos,
e destes uma parte tenta conscientizar,
outra já se deu por vencida.
Mas e toda forma é preciso falar.
E aquele povo falava dos outros.
E ao mesmo tempo eu observa
as formigas,
será que elas também têm
problemas de convivências?

Mariana Bizinotto – 22/07/2009

Eis a questão

Não sei se é bom ou não
sentir saudade.
Confesso que até ontem senti.
Hoje não sei bem o que pensar.
O tempo apaga as ideias e as transforma.
O que antes era crível, hoje pode não ser.
O que parecia tão distante acabara de acontecer.
O que parecia sonho desabou.
O que tanto buscava já chegou.
O que tanto queria não quero mais ter.

O pensamento foi trocado pela ação.
A razão pela emoção.
E o resultado nada agradável
da análise pós-acontecimento
trouxera os remorsos.
Estabilidade foi substituída por desafio.
Porém a minha vida exige segurança.
Não a mesma, rígida, que sempre houve,
mas um mínimo suficiente para me estruturar.
Entre o que era, o que fui e o que almejava ser.
Entre o que fui, o que estou sendo e o pretendido,
porém este último não foi definido ainda.

Mariana Bizinotto – 20/07/2009