domingo, 30 de agosto de 2009

Paradoxal dilema

Decidir entre um futuro promissor
e o passado seguro
não é fácil.
Ainda mais quando este passado
teima em ser presente
e o futuro tem pressa em acontecer.

Mariana Bizinotto – 20/07/2009

Voz misteriosa

Calma,
intrigante,
persistente,
era uma voz,
que anunciava o silêncio.
Que queria projetar-se
e continha a si própria.
Queria fazer-se ouvir,
mas era perigoso.
Escondendo-se
descobriu um caminho próprio,
seguro,
no qual não haveriam contestações.
E no qual descobriu estar passível a contradições,
piores ainda que as contestações,
pois estas ofereciam possibilidade de revanche.
Contradições,
no início, difíceis de conviver como ideias,
mas depois de suas raízes
na luta contra as contestações,
era possível seguir adiante,
sem preocupar-se com contradições alheias,
e mais ainda descobriu que também poderia
contradizer-se, a si própria
e o mundo não estaria findo.
Era uma questão de ponto de vista,
e como o mundo gira,
nada mais normal que atualizar-se.

Mariana Bizinotto – 25/06/2009

terça-feira, 25 de agosto de 2009

A poesia que nunca escrevi

A ideia esperada a tanto
surge enfim
enquanto meus olhos avistam
no horizonte a lua cheia
e eu caminho na rua meio iluminada
e deserta.
Cabeça aberta, olhos sonhadores
e medo inexistente.
Porém mal sabia eu
que minhas idéias eram espreitadas.
O vislumbre pela força mágica
das palavras em mente
cegavam o mundo externo,
o qual só se fazia presente
pela interpretação que ganhava em mim.
Não fantasiado ou uma surrealidade,
mas uma vontade de existir de outra forma.
Sonhos em realização eram acoplados
ao mundo que nunca os suportariam.
E dessa forma o mundo que eu via só existia em mim.
enquanto para os outros nada de especial acontecia.
eu descobria que o mundo que sempre sonhei
poderia sim, existir.
E eu vivia por instantes nele.
É preciso retornar ao mundo dos loucos,
nem por isso abandonarei a sanidade do sonho.

Mariana Bizinotto – 20/07/2009

Ladeiras de Ouro Preto

Muito morro
Muita pedra
Muita igreja
Sobe-desce
Desce-sobe
Igreja
Ladeira
Morro
E pedra...
Ladeira sobe
Ladeira desce
É pedra por toda parte.
Retas, curvas e pedras.
Não que as pedras sejam ruins,
pelo contrário, elas é que dão fama ao lugar.
De certa forma, porque as igrejas
também têm seu charme turístico.
Mas até a arte vista por toda parte lá
é em pedra, pedra-sabão.
Sobe-desce
Pedra vai, pedra vem
E o lugar permanece, encantador como sempre
e cativante como nunca.
Valeu a pena escalar cada pedrinha
e cada ladeira daquela...
Descobrir a história, que, aliás, é bem viva no lugar.
Uma pesquisa em campo,
um repensar necessário.
Ver a arte dos mestres brasileiros
descobrindo ao mesmo tempo
a nova arte que surge nas mãos artesãs,
tímidas e sonhadoras.

Mariana Bizinotto – 20/07/2009

Era uma vozinha

Era uma voz.
Uma vozinha...
som suave,
tão suave
que de vez em quando
se tornava irritante!

Uma vozinha leve...
que não queria aparecer.
Tentava se conter, esconder, omitir ao máximo!
Mas se fazia necessária vez ou outra
e precisava aparecer.

Leve como pena,
era preciso silêncio absoluto
para ouvi-la,
pois até o vento
poderia levá-la, dissipá-la.
Era uma voz tímida, não fraca!
Fraca não, isso não era!
Tímida! Falava com temor,
mas quando conseguia
agarrar um fiozinho de segurança,
falava eloquentemente,
com a força da alma.

Porém era esse tal fiozinho de segurança
que vivia desfiado,
perdido por entre suas entranhas,
que a impedia de projetar-se.

Ir ao longe e alcançar ouvidos errados,
propagar mentiras
ou causar dúvidas,
e encontrar contestações –
essas vinham aos gritos,
escândalos vergonhosos,
aniquilação de todo um ser –
esses eram os maiores temores!

Por isso era preciso
paciência.
Fazer-se útil apenas com a certeza.
E esta certeza faltava-lhe quase sempre.
Falar, era morrer um pouco de cada vez.

E foi essa mesma vozinha
fina, suave, leve
e impacientemente temerosa
que conquistou o mundo.
Não através do som, mas da visão.
Se não era possível projetar-se em pronúncias,
era possível aos poucos transcrever-se,
e assim fazer-se existir.
E foi assim também
que aprendera a tecer os fios de segurança
que haviam dentro de si.
Suas entranhas nunca mais foram as mesmas,
agora eram rígidas,
estavam seguras de si
e conseguiam fazer-se ouvir.

Nunca imaginavam
apesar de terem sonhado diversas vezes com isso,
que um dia estariam à mostra.
Seriam alvo de procura e perguntas
e mais ainda que deteriam as respostas.

Mariana Bizinotto – 25/06/2009

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Essa tristeza

é uma angústia
do ser
que percebe a vida
passando depressa.

Mariana Bizinotto- 14/06/2009

A chave do mundo

Como nas mensagens subliminares
é preciso decifrar,
se envolver até o infinito
para descobrir o que sempre esteve ali,
escondido, oculto, tímido, misterioso,
instigante, provocativo, sábio.
Ler nas entrelinhas,
nas bordas,
no verso,
no espaço vazio
e no bombardeio de informações;
desvendar os códigos;
encontrar em cada poema
a chave que o abre.

Mariana Bizinotto - 29/05/2009