terça-feira, 25 de agosto de 2009

Era uma vozinha

Era uma voz.
Uma vozinha...
som suave,
tão suave
que de vez em quando
se tornava irritante!

Uma vozinha leve...
que não queria aparecer.
Tentava se conter, esconder, omitir ao máximo!
Mas se fazia necessária vez ou outra
e precisava aparecer.

Leve como pena,
era preciso silêncio absoluto
para ouvi-la,
pois até o vento
poderia levá-la, dissipá-la.
Era uma voz tímida, não fraca!
Fraca não, isso não era!
Tímida! Falava com temor,
mas quando conseguia
agarrar um fiozinho de segurança,
falava eloquentemente,
com a força da alma.

Porém era esse tal fiozinho de segurança
que vivia desfiado,
perdido por entre suas entranhas,
que a impedia de projetar-se.

Ir ao longe e alcançar ouvidos errados,
propagar mentiras
ou causar dúvidas,
e encontrar contestações –
essas vinham aos gritos,
escândalos vergonhosos,
aniquilação de todo um ser –
esses eram os maiores temores!

Por isso era preciso
paciência.
Fazer-se útil apenas com a certeza.
E esta certeza faltava-lhe quase sempre.
Falar, era morrer um pouco de cada vez.

E foi essa mesma vozinha
fina, suave, leve
e impacientemente temerosa
que conquistou o mundo.
Não através do som, mas da visão.
Se não era possível projetar-se em pronúncias,
era possível aos poucos transcrever-se,
e assim fazer-se existir.
E foi assim também
que aprendera a tecer os fios de segurança
que haviam dentro de si.
Suas entranhas nunca mais foram as mesmas,
agora eram rígidas,
estavam seguras de si
e conseguiam fazer-se ouvir.

Nunca imaginavam
apesar de terem sonhado diversas vezes com isso,
que um dia estariam à mostra.
Seriam alvo de procura e perguntas
e mais ainda que deteriam as respostas.

Mariana Bizinotto – 25/06/2009

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